sexta-feira, 29 de abril de 2011

Terra da Luz

Paula Nei, boêmio de talento, convence Patrocínio, seu amigo, a fazer uma viagem pelo Norte, onde, aliás já estivera, por ocasião da seca de 1879. (A voz de Castro Alves repercutia, ainda, entre os clarões de seus versos frementes. Contra o amor, triunfa a morte: mas renuncia diante do gênio...)
Em face do entusiasmo abolicionista do Ceará, tremiam os senhores de escravos. Para vendê-los, tentavam embarcá-los para outras províncias. Dirigidos por Francisco José do Nascimento, os marítimos de Fortaleza resolveram impedir que isso acontecesse. Os embarques eram feitos em jangadas; pois nas jangadas não mais entrariam os cativos! E, em janeiro de 1881, Francisco José do Nascimento (mestre Chico, chamado também Dragão do Mar) ordena que no porto do Ceará não mais se embarcassem escravos! A essa gloriosa província, berço de José de Alencar, chegaram Patrocínio e Paula Nei em 30 de novembro de 1882, sendo recebidos magnificamente.
Dragão do Mar e companheiros não faltaram às homenagens aos dois ilustres brasileiros.
Ao Ceará deu Patrocínio o nome de Terra da Luz, havendo sido agraciado com o título de Cidadão Cearense.
Foram apoteóticas a viagem e a excursão. Patrocínio fatigadíssimo, necessitava de repouso. E seguiu para a Europa.
Apesar de sua ausência, continuavam a campanha e o jornal, porquanto os amigos não fraquejavam.
Em 1º de janeiro de 1883 a cidade cearense de Acarape ( hoje Redenção) liberta a escravatura do município. E a data de 25 de março de 1884 é escolhida para que a província do Ceará extinga o cativeiro em seu território!
A convite dos abolicionistas da Côrte , o Dragão do Mar, em 1884, embarca para o Rio; e traz uma jangada, "Libertadora", para ser entregue no Museu Nacional,(...) O préstilo eletrizou os cariocas, foi aclamadíssimo pelas ruas. Cerca de vinte mil pessoas formavam o cortejo! Enviada, mais tarde ao Arsenal da Marinha da Corte, a jangada Libertadora desapareceu.
Perdeu-se, deste modo,uma relíquia da História do Brasil.
Lá em Paris, em março de 1884, recebe Patrocínio a notícia da libertação dos escravos do Ceará. Exultante, organiza um banquete, a que compareceu a fina flor do jornalismo da capital francesa, políticos, intelectuais! Por doença, não esteve presente Victor Hugo - mas atendendo ao apelo de José do Patrocínio, escreve umas linhas de exaltação à magnânima atitude cearense. Entre os convivas, o apóstolo negro fez distribuir seu opúsculo "L'affranchissement des esclaves de la províncie de Ceará, du Brésil"

Texto transcrito de "Patrocínio, o abolicionista". João Guimarães. Editora Melhoramentos - 1967

Nenhum comentário:

Postar um comentário