segunda-feira, 4 de abril de 2011

ABAIXO A ESCRAVIDÃO

ABAIXO A ESCRAVIDÃO ( LIBERTADOR- 15 de janeiro 1881 - nº 2 )

Em meio das grandes idéias que nobilitam nosso século, uma grande vergonha faz ainda corar a nossa pátria querida.
É a vergonha da escravidão!
E ser o Brazil este paíz immenso, como immenso é seu território, livre como sam livres suas matas seculares, cujas frondes topetam as nuvens, altivo como altivas sam as catadupas que sorguem as águas de seus rios-oceanos, rico, como rica é a vegetação de seu solo, majestoso, como magestosa é perspectiva de sua natureza, que há de conter em seu seio o elemento servil, clemente de vergonha, que desconceitua na opinião das nações civilisadas?
Oh não, é tempo que desappareça do meio de nós a infâmia que retarda o nosso progresso e nos distancia do lugar que compete-nos no congresso das nações.
Em quanto a liberdade não congraçar-nos no mesmo amplexo, como irmãos que somos perante Deus e a humanidade, perante a civilização e o progresso, seremos um povo sem autonomia, sem consciência do nosso valor , por quanto amesquinha a nossa grandeza, as instituições liberaes que nos governam, o desequilíbrio de acção, o poderio forte contra o fraco, do senhor contra o escravo, cuja permanência criminosa, a despeito dos brados de indgnação da imprensa livre, atira ainda à face da nação a repetição de scenas de horrores, praticadas a sangue frio e em pleno século XIX.
Oh! não; a escravidão não tem mais rasão de ser; desapparecida de todas as nações que com grandes sacrifícios lavaram-na de seu solo, desapparecerá também de do Brazil, que deve orgulhar-se de não ceder-lhes o passo na expansão dos sentimentos generosos.
Só assim teremos fé no futuro que se lhe desenrola deslumbrante, na attitude soberana , que deve assum ir como ação culta e que dam-lhe o direito as forças vitaes de que dispõe.
Está mais que provado que só o trabalho é que ennobrece, e não aquelle que augmenta a fortuna pública, amontoada a custa das lágrimas e do sangue dos desgraçados.
Se uma parte do império só sabe elevar-se auxiliada pelo braço do escravo, que lhe proporciona as commodidades da riqueza, além da uberdade do solo, das regularidades das estações, da doçura do clima, que tudo lhe é favoravel, nos os desamparados da fortuna, que luctamos com as calamidades inerentes a posição geographica de nosso torrão , para quem a vida é difícil e exige constante trabalho; nós beduínos do deserto, acostumados a arrancar do solo o sustento quotidiano com muito suor da fronte, devemos orgulhar-nos de termos sido os primeiros que enunciamos o trabalho e que primeiro extinguiremo o elemento servil que tanto destoa do nosso adiantamento.
(...)
Viva a liberdade!
Abaixo a escravidão"
Transcrito do LIBERTADOR- Orgão daSociedade Cearense Libertadora- Edição fac-similar 1988
Teresinha de Lisiê Freire

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