quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Negro no Brasil

Para o Brasil o homem da África foi trazido principalmente como mão-de-obra: a mão de obra capaz de substituir o indígena, pois este não estava afeito ao trabalho sedentário e de rotina na lavoura. O negro foi o elemento humano que completou a atividade do português como criador de um sistema de agricultura tropical, que serviu de base no processo de colonização com que foi ocupado o território brasileiro.
Foi particularmente o escravo que influiu na organização econômica e social do Brasil, constituindo a escravidão uma daquelas três forças- as outras duas, a monocultura e o latifúndio- que caracterizam o processo de exploração da nova terra portuguesa; e que fixaram igualamente a paisagem social da de família ou coletiva no Brasil. esta distinção já a fazia Joaquim Nabuco, em 1881, antecipando-se assim aos modernos estudos de interpretação antropológica ou sociológica sobre o negro: "o mau elemento da poopulação não foi a raça negra, mas essa raça reduzida ao cativeiro", escreveu ele em o Abolicionismo.
Essa situação de escravo, portanto, marca o traço fundamental e indispensável de ser assinalado a presença do negro africano no Brasil; a influência não foi do negro em si, mas do escravo e da escravidão, já observou Gilberto Freyre. Como escravo, e por causa da escravidão, o negro africano teve sua cultura perturbada; dela afstado bruscamente, misturou-se com outros grupos culturais. Esta circunstância contribuiu para os valores culturais de que era portador fossem prejudicados em sua completa autenticidade ao se integrar no Brasil. Não puderam os escravos negros manter íntegra sua cultura, nem utilizar preferencialmente suas técnicas em realção ao novo meio. Nao foi possível aos negros revelarem e aplicarem todo o seu conjunto cultural: ou porque, ao contacto com outros grupos negros, receberam ou perderam certos elmentos culturais, ou porque, como escravos, tiveram sua cultura deturpada.Daí os sincretismos e os processos transculturativos.
Talvez este fato tenha concorrido para fazer com que no novo meio nem sempre fosse o negro um conformado; um joão-bobo que aceitasse pacificamente o que lhe era imposto. Foi,ao contrário, e por vezes através de processos bastante expressivos- e o caso dos Palmares é típico-, um rebelado. Fugas, rebeliões, insurreiçoes, formação de quilombos denunciam a reação do negro à situação que lhe era imposta. (...)

A contribuição do negro africano
(...)
Os traços ou complexos culturais introduzidos pelo negro da África, através da escravidão, se manifestaram, em várias atividades. Sistematizando-se o que foi a participação negra no processo transculturativo no Brasil poderemos lembrar, a seguir, alguns de seus aspectos ou elementos mais característicos, aqueles em que mais visível se tornou a influência da cultura negra.
A ioruba, relembra Artur Ramos, foi a mais adiantada das culturas negras puras, introduzidas no Brasil. O nagô se converteu, por algum tempo, pela influência da cultura ioruba, em "língua geral" dos negros; em nagô se realizavam, as cerimônias do culto, os cânticos dos terreiros, os atos litúrgicos. Esta língua entrou em contacto com a portuguesa, passando a esta muitas de suas palavras, o que igualmente sucedou com o quimbundo. Aliás, do ponto de vista linguístico, o grupo banto deixou talvez a mais forte influência, através do quimbundo, as maiores pesquisas e estudos sobre as sobrevivências africanas no português do Brasil têm demonstrado a prepoderância linguística do elemento banto, embora sua cultura, de modo geral, fosse inferior à ioruba.
A celebração do culto nagô se faz em templos próprios, os terreiros, constituindo seus altares os pejis. Os sacerdotes são chamados babalorixás ou babalaôs. Na religião ioruba se tem feito sentir o forte sincretismo com o catolicismo e o esppiritismo, sobretudo o catolicismo, adaptando os santos deste aos seus. Os outros grupos culturais mantiveram também suas práticas religiosas sincretizadas com o catolicismo; talvez somente os maometanos se tenham isolado mais, sob este aspecto, praticando na sua pureza a religião trazida.
Do camdoblé, na Bahia, ou a macumba, no Rio, xangô no Nordeste, deve-se dizer que é um produto já brasileiro, resultado do processo transculturativo, e não a uma prática pura ou exclusivamente de negro africano. Surgiu no Brasil sob influência, é certo, de negros, mas como fenômeno já nosso transculturado.
Instrumentos de música como tambores, atabaques ou campânulas, agagô, ou flauta, afofié, usado nas práticas religiosas, são igualmente de origem ioruba; entre os bantos, da mesma forma, encontramos instrumentos de música tais como tambores de jongo, o ingono usado no Nordeste, o zambê, a cuica, o urucungo, o berimbau.
Da cultura material, podemos lembrar de origem ioruba numerosos pratos da culinária afro-brasileira; aí predominou, em particular na área baiana, a influência enorme da cozinha nagô. O complexo do inhame como o usdo do azeite de dendê são origem ioruba, e mais alguns pratos de procedência africana:o vatapá, o acaçá, o bobó, o acarajé, o abará, o efo, o axoxó etc.
A influência ioruba se faz sentir ainda na indumentária: panos vistosos, saias rendadas, braceletes, colares etc.; neste modo de vestir se misturaram influências ioruba e maometana, de maneira a caracterizar o traço africano na indumentária, de que é padrão o vestir à "baiana".
Também é de origem ioruba objetos de bronze, de ferro ou madeira, fabricados para seus cultos, instrumentos de música, objetos de culto, ou de uso doméstico; ainda certos traços de arquitetura na construção dos pejis, embora africano não tenha tido oportunidade no Brasil, de revelar sua cultura, sob este aspecto, pela ausência de construções de sua exclusiva iniciativa. Todavia, nos mocambos encontra-se grande influência negra, porém mais do elemnto banto.
In Etnias e Culturas no Brasil- Manoel Diégues Júnior- Biblioteca do Exército

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