quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Por que a moeda foi inventada

Quando dividebat Altissimus, gentes, quando separabat filios Adam, constituit terminos populorum juxta numerum filiorum etc.
Quano o Altissímo e soberano Deus onipotente dividiu as gentes e separou os filhos de Adão, ele delimitou os territórios de cada povo segundo o número de filhos de Israel; daí em diante os homens se multiplicaram sobre a terra e foi necessário dividir erepartir novamente suas posses.
Disso resultou que um deles passou a possuir algo a mais do que sua necessidade comportava, enquanto outro tinha dessa mesma coisa muito pouco ou nada; mas, por outro lado , este segundo tinha fartura ou lhe sobrava outra coisa que ao primeiro faltava. Assim, por exemplo, podia ocorrer que um pastor chegasse a ter ovelhas ou outro gado em profusão, mas precisasse de trigo e de pão; enquanto um lavrador, ao contrário, tivesse pão suficiente, mas lhe faltava gado.
Uam região, por sua vez, tinha algo em superabundância que a uma outra fazia falta.. Por essa razão, portanto, os homens começaram a comerciar e a trocar riquezas, sem moeda, dando um deles uma ovelha a outro trigo e, o outro, seu trabalho em troca de pão e de lã. E assim eles faziam com todas as outras coisas. Acostumaram-se , então, a proceder dessa maneira por muitos anos, em várias cidades e países, como contam Justino, o historiador, e outros autores antigos.
Porém, como surgissem nessa forma de permuta e de troca das coisas muitas dificuldades e controvérsias, os homens, engenhosos, descobriram uma maneira mais ágil de fazê-lo, isto é, fazer uso da moeda, a qual foi instrumento para permutar e comerciar entre si suas riquezas naturais. E como unicamente estas, por si próprias, satisfazem diretamente as necessidades humanas, todo odinheiro é dito riqueza artificial e não poderia ser de outro modo, podendo acontecer que alguém que as tenha em abundancia possa morrer de fome ao lado delas.
É o que argumenta o filósofo Aristotéles, citando o exemplo de um rei ganancioso, qu Ovídio, em seu livro Metamorfoses, chama Midas, o qual rezou e rogou aos deuses que tudo que ele tocasse virasse ouro. os deuses outorgaram-lhe esse desejo louco e, desse modo, ele morreu de fome no meio do seu ouro, como representaram os poetas. Com dinheiro, com efeito, não se supera de modo imediato a indigência da vida humana, sendo ele um instrumento artificial, escoberto para permutar mais facilmente as riquezas naturais.
Fica claro, então, sem necessidade de outras provas, que a moeda é muito útil e oportuna para o bem da comunidade pública, alás muito necessária, como demonstra Aristóteles, no seu quinto livro de Ética. (...)

De que material deve ser a moeda

Já que a moeda é o instrumento que serve para permutar riquezas naturais entre os homens, foi necessário que tal instrumento fosse apto para tanto, ou seja, fácil de apalpar e manejar rapidamente, leve de carregar e tal que por pequena porção dele possam ser compradas e trocadas riquezas naturais em maior quantidade, juntamente com várias outras condições que serão examinadas a seguir.
Foi conveniente, portanto, que a moeda fosse feita de matéria preciosa e pouco volumosa, assim como é o ouro; mas de matéria da qual o país tenha suficiente abundância. E quando o ouro não é suficiente, faz-se moeda de prata. Quando, então, esses dois metais não forem suficientes ou não se encontrem em abundância adequada, deve-se fazer moeda mesclada ou simples de ouro metal puro. Antigamente fazia-se essa moeda de bronze ou de cobre, assim como conta Ovidio, no primeiro livro de Os fastos, ode ele diz:
Aera dabant olim, melius nunc omen in auro est,
Victaque concessit prisca moneta novae
O que quer dizer, em vernáculo, que os antigos, em tempos longínquos, usavam suas moedas de cobre, mas hoje em dia, e melhor, os modernos negociam com as de ouro. E assim, superada, a moeda antiga cedeu lugar a nova.
(...) E, como ensina Cassiodoro, os dois primeiros homens que se diz terem achado esses metais foram Éaco, que achou o ouro, e Indo, rei da Cítia, a prata. Com ação digna de grande louvor, ele os entregaram aos homens para seu uso e, desde então, foram considerados divinos por seus povos. Por essa razão, não se deve permitir que grande quantidade desses metais seja utilizada para outros fins se o que resta não for suficiente para fabricar moeda.
Sabendo e bem considerando, outrora, tal coisa, Teodorico , rei da Itália, ordenou que o ouro e a prata, que segundo o costume dos antigos pagãos, estavam escondidos nos sepulcros, junto dos mortos, fossem dali retirados e trazidos para com eles fabricar moeda, para o uso e utilidade pública, declarando ser uma espécie de crime deplorável deixar inultimente nos sepulcros dos mortos algo que poderia servir de ajuda e sustento dos vivos.
Texto extaído do Livro- Pequeno tratado da primeira invenção das moedas ( 1355) Tradução de Maria Terenzi Vicentini-

Nenhum comentário:

Postar um comentário